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O que o professor precisa saber sobre refluxo

Quando o assunto é o refluxo nas crianças, não são poucas as dúvidas e preocupações que surgem tanto pelos familiares quanto pelos profissionais que atuam na educação, afinal o problema além de chato pode ser sério. Então vamos entender melhor essa situação.
O refluxo gastroesofágico (RGE) é uma condição onde ocorre o retorno do conteúdo gástrico para o esôfago (órgão que liga a garganta ao estômago).

Fonte: commons wikimedia

A doença do refluxo gastresofágico (DRGE) é habitualmente definida como a presença de sintomatologia ou complicações do RGE, e não está restrita a regurgitações ou vômitos, frequentemente acompanha outros sintomas.
O refluxo pode afetar adultos e crianças e estima-se que a doença acometa aproximadamente 12% da população brasileira.
Vale ressaltar que todas as pessoas, incluindo crianças e adultos apresentam um pouco de refluxo em algum momento do dia (principalmente após as refeições), isso ocorre em períodos curtos considerados normais.
O refluxo pode se apresentar de duas maneiras, o refluxo gastroesofágico do adulto, e o refluxo gastroesofágico da criança. Habitualmente na criança os sintomas do refluxo aparecem nos primeiros meses de vida e melhoram até 12 a 24 meses, na maioria dos casos, já no adulto aparece mais tardiamente, tem sintomas persistentes e quase sempre necessita de tratamento, caracterizando a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE).

Tipos de refluxo gastroesofágico na criança

O refluxo na criança pode ocorrer de três maneiras diferentes, divide-se em:
1.      Refluxo fisiológico
2.      Refluxo patológico
3.      Refluxo oculto
refluxo fisiológico ocorre devido a imaturidade dos mecanismos de barreira antirrefluxo, como por exemplo, podemos citar a válvula que fica entre o estômago e o esôfago, que impede o retorno dos alimentos.
Este refluxo é caracterizado pela regurgitação que ocorre após a alimentação do bebê, podendo acontecer com alimentos líquidos ou sólidos. Surge nos primeiros meses de vida e pode chegar até os dois anos de idade, na maioria dos casos, a frequência da regurgitação diminui após os seis meses, coincidindo com a introdução de alimentos mais sólidos e a posição mais ereta da criança.
No refluxo patológico não ocorre a melhora da regurgitação e do vômito após os seis meses de vida, podendo aparecer outros sinais e sintomas como: choro excessivo, irritabilidade, distúrbio do sono, agitação, dor abdominal e recusa da alimentação.
E por último, temos o refluxo oculto, neste caso existe também o retorno do conteúdo gástrico, porém ele não é exteriorizado pela boca, segue por “outros caminhos”, como por exemplo, para as vias respiratórias, neste caso além do bebê ter a clássica queimação, ele também poderá apresentar outros sintomas, como: otites, sinusites e pneumonias de repetição.
O diagnóstico pode ser feito através da endoscopia ou da Esôfago Estômago Duodenograma, porém como são dois exames muito invasivos, o diagnóstico médico é realizado através do relato dos pais e do exame físico feito no bebê.
Podemos salientar que, quanto menor é a idade da criança, os sintomas podem se tornar mais inespecíficos, por esse motivo a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda aos pais que procurem a orientação do pediatra, se observarem que a criança se torna mais irritada, chorosa, ganhe pouco peso ou perca peso.

Os principais sintomas do refluxo são:

§  Vômitos e regurgitações
§  Anemia
§  Falta de apetite
§  Dificuldade de ganho de peso ou perda de peso
§  Irritabilidade
§  Enjoo
§  Aftas, soluço e halitose

Alguns sintomas respiratórios podem estar associados a DRGE como:
§  Chiado
§  Ronquidão
§  Bronquite
§  Asma
§  Tosse crônica
§  Engasgos
§  Pigarro
§  Otites, sinusites e faringites
Esses sintomas podem atrapalhar a alimentação e sono dos bebês, o que favorece a irritabilidade e choro.

Diagnóstico e tratamento:

Após uma investigação médica criteriosa, correlacionando sintomas, exame clínico, exames de diagnóstico (se houver), idade e probabilidade de se evitar consequências negativas para a criança, o tratamento será direcionado pelo médico pediatra, podendo ser medicamentoso ou não.
Orientações para mudanças no estilo de vida e readequação da dieta, também fazem parte do tratamento, Essas mudanças no estilo de vida dos pais/cuidadores e das crianças, poderão auxiliar na prevenção das complicações do refluxo, isso vale tanto para as crianças que apresentam o refluxo gastroesofágico fisiológico quanto aquelas que apresentam a doença do refluxo.

Confira abaixo algumas medidas que poderão reduzir o refluxo e prevenir complicações:

Medidas de prevenção relacionadas ao aleitamento:

§  Até os 6 meses de vida o único alimento indicado para bebês é o leite materno;
§  Não ficar balançando o bebê no colo após as mamadas;
§  Aguardar alguns minutos para o bebê arrotar, isso poderá levar algum tempo, o arroto vai depender da quantidade de ar que o bebê engoliu durante a mamada;
§  O bebê deverá estar na posição semi-elevado para a mamada e elas deverão ser fracionadas;
§  Não vestir roupas apertadas no bebê principalmente durante as mamadas;
§  Observar se a fralda está apertando a barriga do bebê;
§  Se ocorrer o vômito aguardar pelo menos 30 minutos para oferecer novamente o leite ou o alimento;
§  Sobre o intervalo entre a mamada e a colocação do bebê para dormir, seguir a orientação do pediatra que poderá variar de 20 a 40 minutos (dependerá do tipo e gravidade do refluxo), neste período mantê-lo na posição ereta para que o leite se acomode no estômago e facilite a digestão;

Medidas gerais para alimentação de crianças:

  1. As mamadeiras deverão ser oferecidas quando a criança estiver na posição semi-elevada;
  2.  Seguir sempre a orientação do pediatra e nutricionista a respeito de espessantes (produtos que engrossam o leite e outros líquidos), esses produtos não são recomendados para bebês prematuros nem para crianças com sobrepeso, além de demonstrarem poucos benefícios para crianças em aleitamento materno;
  3.  Readequação da dieta conforme a idade da criança, sempre seguindo as orientações do pediatra e nutricionista: alguns alimentos não são indicados como: café, chá, chocolate e alimentos gordurosos e algumas fórmulas infantis poderão ser substituídas;
  4.  Evitar a exposição da criança ao tabaco (o tabaco interfere nos mecanismos naturais antirrefluxo)
  5. A forma mais segura de alimentar crianças é na posição semi-elevada, isso favorece a redução do refluxo e minimiza o risco de engasgo. Para crianças que já sentam sem apoio e possuem equilíbrio suficiente para não tombar as refeições podem ser oferecidas em cadeirão de alimentação.]

Segurança do Cadeirão de alimentação:
§  A crianças deverá utilizar o cadeirão para alimentação quando já estiver sentando sem apoio. A partir do quinto e sexto mês, a criança começa progressivamente a sentar sem apoio, por conta do seu desenvolvimento nas condições de equilíbrio do tronco;
§  A etapa de desenvolvimento motor onde já senta sem apoio é classificada entre o 7º. e 10º. Mês de vida;
§  A norma técnica da ABNT para cadeirões é a 15991-1:2011;
§  Verifique na embalagem da cadeira a faixa etária a que se destina;
§  Verifique se não há rebarbas ou partes cortantes visíveis;
§  As cadeiras altas não devem conter rodas e deverá possuir uma base ampla e estável;
§  Recomenda-se que a criança sempre esteja presa pelo cinto de segurança (de 5 pontos);
§  Segundo a norma ABNT 15991-1:2011, as cadeiras altas são destinadas para crianças de até 15 kg;
§  O cadeirão não poderá conter partes pequenas que possam ser engolidas pelas crianças nem material tóxico na composição de suas partes;
§  Os dispositivos para ajuste devem ser inoperantes pelas crianças quando estiver sentada;
§  Para evitar deslizamento da criança por baixo da bandeja, o cadeirão deverá conter uma faixa larga localizada entre as pernas;
§  A bandeja deverá ser presa ao encosto para que não forme espaços ou vãos;
§  É recomendado apoio para os pés;
§  Não permitir que a criança fique de pé no cadeirão;
§  Não deixar a criança sozinha ou dar-lhe as costas, mesmo que por alguns instantes, enquanto ela estiver no cadeirão;
§  Não permitir que crianças maiores brinquem ou tentem subir no cadeirão;
§  Ajudar a criança a entrar, sentar-se e sair do cadeirão;
§  Afivelar o cinto assim que sentar a criança;
§  Se o modelo for dobrável, recomenda-se testá-lo antes para verificar se está firme;
§  Colocar o cadeirão de costas para a parede preferencialmente para que se movimente o mínimo possível;
§  Não posicionar o cadeirão próximo a eletrodomésticos, bancadas, pias, mesas, as crianças poderão se apoiar e empurrar essas superfícies com os pés ou mãos e virar o cadeirão;
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Posição segura para dormir:

Outra questão importante é a posição da criança na hora de dormir, através de estudos científicos ficou comprovada que a posição prona (barriga para baixo) é a melhor posição para dormir para as pessoas com a DRGE, porém essa posição não é recomendada para crianças menores de 1 ano pelo risco de morte súbita do bebê.
A Academia Americana de Pediatria e o Ministério da Saúde Brasileiro recomenda o seguinte posicionamento da criança até um ano para dormir, tanto para bebês sem refluxo como para portadores da DRGE:
§  Posição supina (barriga para cima);
§  Posicionar o lençol/coberta abaixo das axilas do bebê (para que ele não escorregue para baixo da coberta), não exagerar na quantidade de coberta;
§  Não colocar rolinhos, brinquedos ou protetores no berço;
§  Para bebês com refluxo é comum os pediatras recomendarem a elevação da cabeceira, embora alguns estudos controlados não tenham demonstrado que essa posição é benéfica para menores de um ano;
§  Utilizar um colchão firme (nem duro nem mole demais);
§  Já para adolescentes e adultos com diagnóstico de “doença do refluxo gastroesofágico”, a posição recomendada é dormir de lado (esquerdo) com a cabeceira elevada;

REFERENCIAS:
·         FERREIRA, T.C.; et al. Gastroesophageal reflux disease: exaggerations, evidence and clinical practice. J Pediatr. 2014, 90(2):105-118.
·         CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Dormir de barriga para cima é mais seguro. Pastoral da Criança, 2009. [Internet], disponível em: http://conselho.saude.gov.br/ultimas_noticias/2009/23_jun_barriga.htm
·         O que fazer para o bebê arrotar? Alimentação do bebê, 2013. [Internet], disponível em:http://www.nestlebebe.pt/alimentacao-do-bebe/pequenos-problemas-digestivos/o-que-fazer-para-o-bebe-arrotar
·         SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Quando o refluxo se torna doença? Departamento Científico de Gastroenterologia da SBP, Conversando com o Pediatra, 2014. [Internet], disponível em:http://www.conversandocomopediatra.com.br/website/paginas/materias_gerais/materias_gerais.php?id=192&content=detalhe
·         SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. O que é refluxo? Departamento Científico de Gastroenterologia da SBP, Conversando com o Pediatra, 2014. [Internet], disponível em:http://www.conversandocomopediatra.com.br/website/paginas/materias_gerais/materias_gerais.php?id=189&content=detalhe
·         MOON, R.Y.; FU, L.Y. Sudden Infant Death Syndrome. Pediatrics in Review, 2007, 28(6): 209-214. [Internet], disponível em: http://pedsinreview.aappublications.org/content/28/6
·         NUNES, M.L. Síndrome da Morte Súbita do Lactente: Aspectos Epidemiológicos, Fisiopatologia e Prevenção. Sociedade Brasileira de Pediatria, Documento científico do Departamento de Neurologia, 2003. [Internet], disponível em: http://www.sbp.com.br/img/documentos/doc_sindrome_msl.pdf
·         NUNES, ML.L; et al. Síndrome da morte súbita do lactente: aspectos clínicos de uma doença subdiagnosticada. Jornal de Pediatria, 2001, 77(1): 29-34. [Internet], disponível em:http://www.scielo.br/pdf/jped/v77n1/v77n1a09.pdf
·         CARPENTER, R. et al. Bed sharing when parents do not smoke: is there a risk of SIDS? An individual level analysis of five major case–control studies. BMJ Open, 2013, 3(5): 1-11. [Intermet], disponível em:http://bmjopen.bmj.com/content/3/5/e002299.abstract
·         NORTON R.C.; PENNA, F. J. Refluxo Gastroesofágico. Jornal de Pediatria – Vol. 76, Supl.2, 2000
·         ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT NBR 15991-1:2011, Cadeiras altas para crianças – Parte 1: Requisitos de segurança, ABNT, 2011.

Créditos:http://www.crechesegura.com.br/o-que-o-professor-precisa-saber-sobre-refluxo/